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Sofrimento e Morte de Cristo do Ponto de Vista Médico

O sofrimento físico de Jesus começou no Getsêmani.

Jesus no Monte das Oliveiras - um raro fenômeno: Hematidrose

Antevendo o sofrimento que viria, Jesus Cristo suou sangue. Em Lucas diz: "E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra." (Lc 22:44)


Jesus no Monte das Oliveiras (1460). Andreas Mantegna. 

Apesar de muito raro, bem documentado na literatura médica é o fenômeno físico de suor de sangue, denominado hematidrose. Nesse caso, atenção médica imediata é necessária para prevenir hipotermia. Em resposta a um stressemocional, há um aumento da secreção de substâncias químicas que rompem finos capilares nas glândulas sudoríparas, misturando assim o sangue com o suor. Este processo pode causar fraqueza e choque.

O Sofrimento Físico de Jesus

Um soldado romano vai a Jesus com o flagrum (açoite) em sua mão. Este é um chicote com várias tiras pesadas de couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os ombros, costas e pernas de Jesus. Primeiramente as pesadas tiras de couro cortam a pele. Depois, os tecidos debaixo da pele, rompendo os capilares e veias da pele, causando marcas de sangue, e finalmente, hemorragia arterial de vasos da musculatura
.
O Flagelo de Cristo. William A. Bouguereau

As bolas de chumbo primeiramente produzem enormes, profundos hematomas, que se rompem com as subseqüentes chicotadas. Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e toda a área está uma irreconhecível massa de tecido ensangüentado.

O Cristo Coroado

Sobre sua cabeça cravaram-lhe a coroa de espinhos. Lembremos que as veias que drenam o couro cabeludo são avalvuladas, contribuindo assim para que o sangramento da cabeça seja expressivo (o couro do crânio é uma das regiões mais irrigadas do nosso corpo). Novamente, há uma intensa hemorragia; soma-se a isso a dificuldade das bordas da ferida na pele se aproximarem espontaneamente; a tendência da ferida é se abrir, o que se deve a tração provocada por dois músculos de ações antagônicas, frontal e occipital, que são unidos pela gálea aponeurótica.

Coroação de espinhos. Caravaggio

Cristo Carregando a Cruz

A cruz que lhe impuseram tinha, segundo dados históricos, 2,34 x 2 metros e, aproximadamente, 22Kg. A pesada barra horizontal da cruz á amarrada sobre seus ombros, e a procissão do Cristo condenado, dois ladrões e o destacamento dos soldados romanos para a execução, encabeçado por um centurião, começa a vagarosa jornada até o Gólgota. Apesar do esforço de andar ereto, o peso da madeira somado ao choque produzido pela grande perda de sangue, é demais para ele. Ele tropeça e cai. As lascas da madeira áspera rasgam a pele dilacerada e os músculos de seus ombros. Ele tenta se levantar, mas os músculos humanos já chegaram ao seu limite.


Cristo cai no caminho do calvário (1517). Rafael Sanzio. 

A Crucificação

Não raramente, os pintores e a maioria dos escultores de crucificação mostram os pregos cravados nas palmas das mãos. Como exemplo, as pinturas de Rafael Sanzio e Velázquez:

Crucificação (1502-03). Rafael Sanzio

O Cristo. Velázquez.

Contos romanos históricos e alguns trabalhos experimentais estabeleceram que os cravos foram colocados entre os ossos pequenos dos pulsos (radial e ulna) e não pelas palmas. Do ponto de vista médico é óbvio supor que os pregos não foram cravados por entre os ossos do metacarpo, pois entre esses ossos existem músculos, dentre eles os lumbricais, frágeis e incapazes de suportar o peso de um homem crucificado. Anatomicamente, um prego capaz de suportar o peso de um homem crucificado, teria que penetrar no carpo. Pregos colocados pelas palmas sairiam por entre os dedos se o corpo fosse forçado a se apoiar neles. O equívoco pode ter ocorrido por uma interpretação errada das palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”.

Uma crucificação retratada corretamente pode ser vista em Brasília, na Paróquia do Santuário Dom Bosco, em escultura do artista Gotfredo Traller:

Crucificação. Gotfredo Traller.

Em Jesus Cristo, provavelmente o prego foi colocado entre os ossos escafóide, semilunar e capitato. Houve intenso sangramento no momento em que os pregos foram cravados no carpo. É de se supor que a hemorragia excessiva fora provocada pela artéria ulnar, rompida provavelmente antes de emitir como ramo terminal o arco palmar superficial.

O pé esquerdo agora é posicionado de modo que fica na frente do pé direito (na pintura abaixo: erroneamente Mathias Grunewald retratou o pé direito sobre o esquerdo), e com ambos os pés estendidos, dedos dos pés para baixo, um cravo é batido através deles, deixando os joelhos dobrados moderadamente. O sangramento abundante do pé também contribuiu para a morte de Cristo. Tal hemorragia fora provocada pela laceração da artéria dorsal do pé, ramo da artéria tibial anterior, próximo à emergência do ramo tarsal lateral.

A Crucificação do Altar de Isenheim (1516). Mathias Grunewald

É provável que os pregos tenham sido transfixados nas intermediações dos ossos cuneiformes, intermédio e lateral.

A Morte de Cristo

Enquanto seus braços se cansavam, grandes ondas de cãibras percorriam seus músculos, causando intensa dor. Com estas cãibras, veio a dificuldade de empurrar-se para cima. Pendurado por seus braços, os músculos peitorais ficaram paralisados, e os músculos intercostais incapazes de agir. O ar pôde ser aspirado pelos pulmões, mas não pôde ser expirado. Jesus lutou para se levantar a fim de fazer uma respiração. Finalmente, dióxido de carbono foi acumulado nos pulmões e no sangue, e as cãibras diminuiram. Esporadicamente, ele fora capaz de se levantar e expirar e inspirar o oxigênio vital. Sem dúvida, foi durante este período que Jesus conseguiu falar as sete frases registradas no evangelho.

A Crucificação do Altar de Isenheim (1516). Mathias Grunewald

Acima: detalhe da cabeça e do tronco de Cristo evidenciando múltiplas escoriações. As pregas axilares estão retesadas, o abdome escavado e os lábios cianosados.

Confirmando a Morte de Jesus

Aparentemente, para ter certeza da morte, um soldado traspassou sua lança entre o quinto espaço das costelas, enfiado para cima em direção ao pericárdio, até o coração. O verso 34 do capítulo 19 do evangelho de João diz: "E imediatamente verteu sangue e água." Pela direção da lança até o mediastino, é de se supor que tenha havido lesão pleural, pericárdica e do coração e dos vasos da base, o que justifica haver jorrado água (líquido proveniente das serosas) e sangue.

Lembramos o Salmo 22 versículo 14 “Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim.”

O momento em que Cristo recebe uma lancetada no hemitórax direito pode ser visto na pintura de Rubens, exposta no Museu de Belas Artes da Antuérpia (Bélgica):

Cristo na cruz entre dois ladrões (1620). Pieter Pauwel Rubens.

Há várias teorias diferentes sobre a causa real da morte de Jesus. Uma teoria declara que Jesus morreu, não de asfixia, mas de um infarto do coração, causado por choque e constrição do coração por fluidos no pericárdio. Outra teoria afirma que Jesus morreu de ruptura cardíaca. A real causa da morte de Jesus, no entanto, parece ter sido multifatorial e está relacionada principalmente ao choque hipovolêmico, asfixia por exaustão e insuficiência cardíaca aguda. Uma fatal arritmia cardíaca pode ter sido o evento terminal.

A Vida, a Morte e a Ascensão de Cristo

Salvador Dali, o mestre do surrealismo, pintou uma tela em que, genialmente, retrata ao mesmo tempo a vida, a morte e a ascensão de Cristo. Esta obra é uma das raras crucificações que mostram corretamente o pé esquerdo posicionado sobre o direito. A cruz flutua sobre o mar da Galiléia. É interessante observar que na cruz, que ascende ao céu, se projeta a sombra do Cristo, mostrando o renascer do sol após as trevas que tomaram conta da Terra no momento em que o Salvador morreu.

Cristo de São João da Cruz (1951). Salvador Dalí. 

A Ressurreição na Arte

A obra abaixo, que simboliza a ressurreição de Cristo, fora executada entre 1499 e 1502 e trata-se de uma das primeiras pinturas conhecidas do mestre do renascimento italiano Rafael Sanzio.


Ressurreição de Cristo ou Ressurreição Kinnaird. Óleo sobre madeira. Rafael Sanzio. 

REFERÊNCIAS:
1.DAVIS, Truman. "A Crucificação de Cristo, a partir de um ponto de vista médico."
2.TERASAKA, D. "Medical Aspects of the Crucifixion of Jesus Christ." . Blue Letter Bible. 1 Jan 2000. 2010. 24 Dec 2010.
3.BEZERRA, Armando "Admirável mundo médico: a arte na história da medicina" - Brasília, 2002.

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