Pular para o conteúdo principal

O teu Deus, onde está?


.


“As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite, enquanto me dizem continuamente: O teu Deus, onde está?” (Salmo 42.3)

Diante da recente tragédia que se abateu sobre inúmeros fiéis que morreram e dezenas que foram hospitalizados no desabamento do telhado de uma igreja, muitas pessoas – evangélicas ou não – têm nos questionado sobre proteção divina, acidentes, doenças e mortes na vida de um cristão.

Constantemente temos ouvido disparates e opiniões distantes da fé bíblica. Talvez o grande problema seja o desconhecimento da Palavra (“errais não conhecendo as Escrituras”) ou pararam a leitura no Antigo Testamento. Mas tenho para comigo que os grandes vilões sejam os pregadores do evangelho que têm martelado diariamente suas fantasias, mas não a Palavra. Trata-se de uma pregação peculiar, irreal, carregada de promessas mirabolantes que Deus nunca fez, e facilidades para a vida que a Bíblia jamais mencionou. Isso tem produzido sofismas que passam por doutrinas cristãs. Por exemplo....

NÃO É VERDADE que não teremos sofrimento na vida! O próprio Jesus, sendo o Filho de Deus, não foi poupado de nada que nós também não viéssemos a sofrer. Ele próprio advertiu que no mundo passaríamos aflições, mas que tão somente crêssemos Nele e na sua vitória final. O Mestre também avisou a Pedro que Satanás o requerera para “peneirá-lo”, entretanto Jesus não promete livrá-lo de tal infortúnio, mas diz que oraria, “para que a tua fé não desfaleça”[1]. Este próprio apóstolo, mais tarde escreveria para que não estranhemos o fogo ardente que surge em nosso meio destinado a provar-nos [2].

NÃO É VERDADE que enfermidade é sinal de pecado, e que o cristão fiel não adoece! Servos fiéis em Cristo podem, em algum momento da vida desenvolver Alzheimer, catarata, depressão, labirintite, câncer, osteoporose ou qualquer outra doença. Neste exato momento há um sem número de cristãos nos hospitais orando humildemente por saúde ou aguardando operação. Companheiros de Paulo, Trófimo ficou doente em Mileto [3], Epafrodito adoeceu mortalmente chegando às portas da morte por causa da obra [4] e Timóteo sofria de freqüentes enfermidades do estômago. Há vidas trágicas com saúde e há vidas abençoadas sem saúde.

NÃO É VERDADE que todos seremos ricos no sentido material! Cristãos sinceros espalhados neste mundo morrerão sem nunca ter abundância de bens. Milhões de cristãos sudaneses, nigerianos ou quenianos sequer possuem sandálias para calçar. Habitantes do Jequitinhonha, bolsão de miséria no Brasil, poderão conhecer a Cristo, mas provavelmente continuarão morando em suas sufocantes taperas sem jamais se refrescarem sob um ar-condicionado. Devemos lutar contra essas terríveis injustiças sociais, mas sempre sabendo que “nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” [5].

Sinceramente espero que estes últimos acontecimentos que tem se abatido sobre uma parcela do povo evangélico sirva como lição, edificação, e que mudem seus paradigmas. Oxalá, que a partir de agora....

NUNCA MAIS digam que se alguém não é curado, a culpa é da falta de fé. A muitos que Jesus curou não hes exigiu fé, nem méritos, mas Ele o fez exclusivamente por sua Graça e misericórdia. Eu creio, mas clamo constantemente como aquele pai: “Senhor, ajuda-me na minha falta de fé” [6].

NUNCA MAIS preguem que as coisas ruins são sempre resultado de maldição. Desde Jó tentaram lhe imputar algum pecado oculto pelo qual estava sofrendo. E ele era justo. Caiu uma torre em Siloé e matou alguns homens. Aos olhos do povo isso poderia indicar que havia algo de errado com eles. Mas Jesus asseverou: “vocês crêem que aqueles dezoito sobre os quais a torre caiu eram mais pecadores do que os demais habitantes de Jerusalém? Em verdade eu digo a vocês não eram. Mas se vocês não se arrependerem, todos igualmente perecerão” [7].

NUNCA MAIS afirmem que Deus os pôs por “cabeça e não cauda”, tentando justificar proeminência para si. O Reino de Deus é composto em sua maioria por gente humilde, como copeiras, auxiliares, pedreiros, costureiras, gente que nada é aos olhos do mundo. Não há vergonha nenhuma nisto, pois a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui [8].

PAREM de afirmar que são “filhos do Rei”, e por isso estão a salvos das intempéries da vida. Mesmo os filhos do Rei baterão seus carros, torcerão tornozelos, amargarão tempos no hospital e passarão por aperto financeiro.

NUNCA MAIS deturpem textos bíblicos para justificar seus engodos como fizeram com “tudo posso naquele que me fortalece” [9], que foi retirado do seu contexto original para inferir que “posso alcançar tudo o que eu desejo”, quando na verdade Paulo está falando de sua tribulação, humilhação, pobreza, abandono, escassez... e que ele podia “suportar todas aqueles coisas Naquele que o fortalecia”.

DEIXEM de buscar “cobertura espiritual”, designação que tem produzido ídolos cheios de empáfia que não podem ser contraditados. O que vale não é a cobertura, mas o estar sobre a rocha, que é Cristo.

Quando os maus dias chegarem, e um dia eles chegam, com certeza irão nos perguntar: “E o teu Deus, onde está?”. Responda que ele também está sofrendo contigo, está ao seu lado enxugando suas lágrimas, e que por um breve momento ainda sofreremos, mas que Ele lhe dá a força e ânimo para continuar vivendo sem medo, sem amargura, sem rancor. E que para nós, o melhor ainda está por vir.

Autor: Daniel Rocha, Pastor da Igreja Metodista.
Contatos: dadaro@uol.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

OS QUATRO ÚLTIMOS IMPÉRIOS MUNDIAIS - DANIEL CAPÍTULO 7

Continuando o capítulo 2, tem outra profecia dentro do mesmo assunto: as quatro últimas potências mundiais. No capítulo 2 estes impérios são representados por uma imagem dividida em 4 partes, que se esmiuçaram ao impacto de uma pedra cortada de um monte. No presente capítulo, estes mesmos impérios representam-se por um leão, um urso, um leopardo, e um animal anônimo terrível e espantoso. Por fim, vem o Filho do Homem, exercendo o juízo e estabelecendo o reino eterno do Altíssimo. I.          OS TEMPOS DOS GENTIOS Que são os tempos gentios.   O texto de Lucas refere-se a um período especial no qual Jerusalém será pisada pelos gentios  (Lc 21.24). O tempo dos gentios teve seu inicio quando uma parte de Israel foi levado de sua terra para o cativeiro na Babilônia em  586 a .C. (2º Cr 36.1-21; Dn 1.1-2) e só terminará quando Cristo voltar para governar sobre todo o mundo, e assumir o trono de Davi (Lc 1.31-32). II.       O CURSO DOS TEMPOS DOS GENTIOS 1.        O p

Sexo anal é pecado? O que a Bíblia diz sobre essa questão?

No dia 15 de novembro de 2010 publiquei aqui no blog um post abordando a questão do sexo oral. http://www.pranselmomelo.com.br/2010/11/sexo-oral-entre-casados-e-pecado.html Infelizmente toda e qualquer matéria que trata questões sexuais de forma mais explicita normalmente é rejeitada dentro de nossas Igrejas. Existe muito preconceito e desconhecimento sobre o tema, logo, muitas vezes o silencio se apresenta como melhor resposta. Desde que foi publicado o post recebe centenas de acessos, mantendo-o nos primeiros lugares ainda que já tenha sete meses de sua publicação. Isso mostra o grande interesse pelo assunto por parte dos leitores do blog sendo que o mesmo recebe também um grande numero de comentários. Entre outras dúvidas tenho sido indagado por alguns a respeito do sexo anal, se a prática é ou não condenada por Deus. A resposta dada pelo pastor Graciliano Martins a uma internauta responde com clareza as dúvidas que por ventura ainda ocupem a mente de outros irmãos. Pr

VISÃO DO TRONO DA MAJESTADE DIVINA APOCALIPSE - 4

João fora banido para a Ilha de Pátmos, por ordem do imperador Domiciano, “por causa da Palavra de Deus e pelo Testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1.9). Na solidão da ilha, foi presenteado com um dos mais altos privilégios que um mortal pode obter. Deus deu a João revelações maravilhosas, que em seu bojo, constituem o clímax do Apocalipse. Foi nesta Ilha que João teve a estupenda visão do Cristo glorificado (Ap 1.9-20). “Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” (Ap 4.1). Jesus convida o apóstolo João a subir ao Seu Trono para revelar os acontecimentos vindouros. Através das revelações deste livro queremos agora fixar os acontecimentos que ocorrerão após o arrebatamento da Igreja fiel de Jesus Cristo. João vê uma porta aberta no céu e recebe um convite para que entre por ela, entrando con