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UMA DEFESA DAS CINCO FESTAS EVANGÉLICAS


“Uma geração louvará as tuas obras à outra geração, e anunciarão as tuas proezas”. (Salmo 145:4)
“Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”. (II Timóteo 4:1-2)
A Igreja tem o dever e obrigação de louvar a Deus por Suas obras, além de anunciá-las e pregá-las ao mundo inteiro. As obras e proezas de Deus são incontáveis e infinitas, de forma que “se cada uma das quais fosse escrita, nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem” (Jo 21:25). Apesar disso, devemos reconhecer que algumas delas são expressamente identificadas por Deus como sendo mais importantes e significantes que todas as demais. O Novo Testamento ensina que Jesus Cristo, em Sua pessoa, obra e ministério, é o ápice, o propósito final, a plenitude e a consumação de toda a revelação de Deus e de todas as Suas obras (Jo 5:46-47; Lc 24:27, 44; Rm 10:4; Cl 1:15-16; 2:10; Hb 1:1-3; 2:10). Isso significa que as principais obras e proezas relacionadas à vinda e ao ministério de Jesus Cristo devem ser reconhecidas como sendo as mais importantes e significantes obras de Deus, pois todas as demais encontram nEle, no Senhor Jesus, o pleno sentido e a significância.
Esse entendimento, de que a vinda, obra e ministério de Cristo é o ápice de toda a revelação de Deus e de todas as Suas obras é de importância crucial para que a Igreja cumpra o Seu dever e obrigação de louvar a Deus por Suas obras, além de anunciá-las e pregá-las ao mundo inteiro. A Bíblia contem muitas histórias das proezas de Deus no decorrer dos séculos. Quais devem ser mais enfatizadas? A Escritura somente, é claro, é a nossa única regra de fé e prática. Mas a partir desta verdade, deriva-se outra questão que é tão importante quanto: na missão da Igreja de ensinar, quais doutrinas, extraídas das Escrituras, devem ocupar o lugar central? A doutrina dos dons espirituais? O que a Bíblia ensina sobre pobreza ou riquezas? O que ensina sobre o Milênio? Qualquer coisa que sejam as doutrinas favoritas do pastor? Os homens frequentemente erram, não pelo que dizem ou deixam de dizer, mas por não manter a ênfase correta no que é objetivamente mais importante e central. O livro de Malaquias, como uma obra divinamente inspirada, é importantíssimo, como são todos os livros da Bíblia. Mas se uma igreja dá um grau de atenção para Malaquias 3:10 que seja equivalente ou maior do que a ênfase dada à morte e ressurreição do Senhor, tal igreja erra gravemente, ainda que a exposição de Malaquias 3:10 seja impecável. Não é preciso falar falsidade para que a igreja esteja errada em sua maneira de ensinar. Basta tratar o que é mais importante como se fosse menos importante e o que é menos importante como se fosse mais (Mt 23:23-24). Igrejas devem se esforçar para “anunciar todo o conselho de Deus” (At 20:27), mas, para que isso aconteça da maneira correta, é preciso reconhecer a centralidade do ministério de Cristo na história da revelação. Os eventos relacionados à vinda, obra e ministério de Cristo devem estar ocupar o espaço central de ensino e todas as demais coisas devem ser ensinadas à luz disso.
É a partir disso que devemos entender a importância dos grandes Credos, Confissões e Catecismos da Igreja. O propósito é organizar, resumir e enfatizar as principais doutrinas da fé cristã de forma que, aquele que deseja adentrar no estudo da Palavra de Deus, esteja adequadamente instruído sobre os principais pontos a ser encontrado lá. No Evangelho de S. João, por exemplo, somos informados, no capítulo onze, que Cristo ressuscitou Lázaro. Apesar desse fato ter seu lugar de importância, não tem a mesma importância que a ressurreição do próprio Cristo, pois a importância e significância da ressurreição de Lázaro é logicamente derivada da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Cristo não tem como propósito nos ensinar algo sobre Lázaro, mas é a ressurreição de Lázaro tem como propósito nos ensinar sobre Cristo, que Ele é “a ressurreição e a vida” (Jo 11:25). É por isso que o Credo Apostólico, por exemplo, menciona a ressurreição de Cristo, mas não menciona a ressurreição de Lázaro. O propósito é organizar e resumir as principais doutrinas da fé cristã, enfatizando o que deve receber prioridade na vida e no ensino da Igreja.
Isso tem implicações importantes também para o culto público. No culto público da Igreja, a Palavra de Deus deve ser lida (Ne 8:1-12; Lc 4:16; At 13:15, 27; 15:21; Cl 4:16; Ap 1:3), cantada (Sl 22:25; 35:18; 111:1; 149:1; II Cr 5:13; Ed 3:11; I Co 14:26; Ef 5:19) e pregada (Sl 40:9; At 20:7, 11; I Tm 4:13-16; II Tm 4:1-2). Igrejas devem se esforçar para “anunciar todo o conselho de Deus” (At 20:27), mas é obviamente impossível que toda a Bíblia seja lida, cantada e ensinada em todo culto público. Sendo assim, faz-se necessário que os ministros da Palavra organizem estes elementos de culto de forma que, em primeiro lugar, os principais fundamentos da fé sejam continuamente enfatizados, nas leituras, nos cânticos e nos sermões e, em segundo lugar, que toda a Bíblia seja ensinada, tomando esses principais fundamentos como o centro em torno do qual todo o resto gira. Será desequilibrada qualquer igreja que não leve estes dois fatores em consideração na organização de sua liturgia.
Com base nessa necessidade bíblica, as Igrejas Reformadas, especialmente no continente Europeu, mantiveram o que foi historicamente conhecido como as“cinco festas evangélicas”NatalSexta-Feira da PaixãoDomingo de PáscoaFesta da Ascensão e Domingo de Pentecostes. A nível eclesiástico e litúrgico, o objetivo das “cinco festas” é garantir que, a cada ano, os principais elementos da obra e ministério de Cristo sejam adequadamente enfatizados, anunciados e celebrados pela Igreja. Como já foi demonstrado, os eventos relacionados à vinda, obra e ministério de Cristo devem estar ocupar o lugar central no ensino da Igreja e todas as demais coisas devem ser ensinadas à luz disso. Sendo assim, não é opcional, mas obrigatório, que a Igreja frequentemente celebre a encarnação, a morte, a ressurreição, a ascensão e a descida do Consolador mediante a intercessão de Cristo. A Bíblia explicitamente identifica estes eventos específicos como sendo os mais importantes da história redenção e, desta maneira, a Bíblia estabelece que sejam as verdades bíblicas mais enfaticamente anunciadas e celebradas.
A Bíblia não estabelece os dias exatos em que isso deve acontecer, é verdade. Mas isso não significa que não estabeleça que deva acontecer. Os principais eventos da obra e ministério de Cristo não são coisas periféricos da Bíblia e da fé cristã, são absolutamente centrais. A Bíblia expressamente ordena que a Igreja anuncie, celebre e louve a Deus por Suas proezas. Como a obra e o ministério de Cristo são as maiores, segue-se que necessariamente são as que mais devem ser enfatizados na celebração e louvor da Igreja. Como a Bíblia não estabelece os dias exatos, segue-se que a Igreja é livre para escolhê-los, conforme o que julga melhor. Qualquer igreja que, em seus cultos públicos, não celebre enfaticamente a encarnação, a morte, a ressurreição, a ascensão e a descida do Consolador mediante a intercessão de Cristo no decorrer do ano, é uma igreja desequilibrada e errante, pois não estará enfatizando os elementos da fé cristã que as Escrituras expressamente ordena que sejam tratados e celebrados como centrais. Celebrar o nascimento de Cristo não é opcional, mas é obrigatório, pois o nascimento de Cristo é tão importante e central para a fé que “todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo” (I Jo 4:3). Assim, a Bíblia ordena que o nascimento de Cristo seja continuamente anunciado e celebrado na Igreja. O calendário cristão e as chamadas “cinco festas evangélicas” são simplesmente maneiras que a Igreja, no decorrer de sua história, encontrou de obedecer a ordem expressa das Escrituras.

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