Vejamos esse post de uma página ateísta do Facebook:
Os ateus estão alegando que Deus permite o canibalismo, e isso não é verdade. Realmente houve canibalismo nos tempos bíblicos, mas Deus não era a favor de tal abominação. Vejamos agora os versículos e, mais abaixo, os analisaremos.
Deuteronômio 28:53: “Por causa do sofrimento que o seu inimigo infligirá sobre vocês durante o cerco, vocês comerão o fruto do seu próprio ventre, a carne dos filhos e filhas que o Senhor, o seu Deus, deu a vocês.”Levítico 26:29: “Vocês comerão a carne dos seus filhos e das suas filhas.”
2 Reis 6:27-29: “… Ela respondeu: “Esta mulher me disse: ‘Vamos comer o seu filho hoje, e amanhã comeremos o meu’. Contudo ele perguntou: “Qual é o problema?” Então cozinhamos o meu filho e o comemos. No dia seguinte eu disse a ela que era a vez de comermos o seu filho, mas ela o havia escondido”.
Lamentações 2:20: “… Deverão as mulheres comer seus próprios filhos, que elas criaram com tanto amor?…”
Ezequiel 5:10: “… os pais comerão os seus próprios filhos, e os filhos comerão os seus pais…”
Jeremias 19:9: “Eu farei com que comam a carne dos seus filhos e das suas filhas; e cada um comerá a carne do seu próximo, por causa do sofrimento que os inimigos que procuram tirar-lhes a vida lhes infligirão durante o cerco.”
Agora vamos analisar esses versículos:
- Observemos que os textos de Deuteronômio 28:53, 2 Reis 6:27-29, Lamentações 2:20 e Ezequiel 5:10 se referem a dias calamitosos, em que os adversários cercaram ou cercariam uma cidade da Terra de Israel, provocando a fome dos seus habitantes. Em consequência, as mulheres e os homens comeriam (ou ameaçariam a comer) seus filhos. Não se trata, pois, de um hábito vigente no povo bíblico do Antigo Testamento, mas de casos excepcionais devidos ao desespero de populações sitiadas e famintas. Nem são exceções aprovadas ou ratificadas pelo autor sagrado que as refere; são, antes, atitudes que contradizem à Lei de Moisés, onde se lê: “Não matarás” (Êxodo 20:13) — atitudes, portanto, que não podem ser tomadas como paradigmas ou como justificativas de canibalismo moderno.
- Quanto aos textos de Jeremias e Levítico: Ele se referem às mesmas circunstâncias; apenas chama a atenção as locuções “Eu farei com que comam a carne de seus filhos e das sua filhas…” e “Vocês comerão a carne dos seus filhos e das suas filhas.”. Estas expressões não significam que Deus havia de preceituar a antropofagia — o que seria contraditório à Lei do próprio Deus: “Não matarás” (Êxodo 20:13). Significa apenas que a calamidade desencadeada sobre Judá pelos pecados do próprio povo será tal que os pais hão de querer comer a carne dos filhos. Perceba que se tratava apenas de um castigo para aqueles que desobedecem aos mandamentos de Deus (Levítico 26:14-17). Mesmo com fome extrema, a ponto de morrerem, não deveriam comer seus filhos (isso mostra também a dureza de coração daquele povo, que matava e comia os próprios filhos). Não significa, então, que Deus aprovava tal prática. Não foi Deus quem mandou comer as crianças, mas sendo Deus Ele já sabia que as crianças seriam comidas, pois Ele sabe de tudo, antes mesmo que aconteça, pois é onisciente.
- Fora do povo de Israel era, sim, praticado o canibalismo ou a antropofagia. Tal costume, porém, supunha premissas alheias às dos judeus. Com efeito, vários povos primitivos julgavam que a absorção do sangue ou o consumo do cérebro de uma pessoa falecida comunicaria ao usuário as virtudes (inteligência, habilidades, força…) desse indivíduo. Por isso matavam seres humanos e bebiam seu sangue ainda fresco, pois no sangue estaria a alma ou a fonte das virtualidades da vítima; o sangue era, por vezes, tido como o alimento mais precioso do ser humano. Em outros casos matavam um ser humano, perfuravam-lhe o crânio e retiravam-lhe ou absorviam-lhe o cérebro, julgando que assim participariam dos predicados do defunto. Ora, tal costume era abominável aos olhos de Israel e de sua Lei; não se encontram no Antigo Testamento testemunhos que possam fundamentar o canibalismo em nossos dias.
Conclusão:
De fato ocorreu canibalismo nos tempos bíblicos, mas é claro que Deus não era a favor de tal abominação, como alegaram os ateus. Não foi Deus quem mandou os pais comerem os filhos, mas eles o fizeram porque estavam com fome, pois estavam sitiados (cercados) pelos inimigos. Não tinham comida, sentiram fome e começaram a comer os próprios filhos. Isso demonstra que eles não respeitavam a lei de Deus (“Não matarás” – Êxodo 20:13). Não justifiquemos, pois, tamanha iniquidade. Que apenas fique claro que Deus não é a favor disso.
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